If it Works, Why Ruin it?

Se Funciona, Para Quê Estragar?

Houve um tempo em que engenheiros ousaram imaginar um avião com asas unidas, conhecido como “joined wing”. Prometia maior eficiência, velocidade e superioridade aerodinâmica. Mas o que restou? Protótipos esquecidos, afogados em complexidades técnicas e na necessidade constante de justificar a sua existência perante um público e investidores que exigiam demasiadas explicações.

Este projeto, tal como a arte contemporânea, parece carregar o mesmo fardo. A modernidade roubou-lhe a emoção, o significado e a intenção. Hoje, proclama-se que o que importa é o processo ou o conceito. Mas, ironicamente, a arte contemporânea perde-se nas suas tentativas incessantes de se justificar, como se precisasse de permissão para existir, tentando preencher um vazio que a sociedade lhe impôs.

Houve, no entanto, um tempo em que a arte se reconhecia à primeira vista. Não precisava de manuais, de longos discursos, nem de paredes repletas de textos explicativos. Mesmo o olhar mais inexperiente podia pousar sobre uma obra e senti-la. A arte falava por si, universalmente, sem intermediários ou ruído. Era um idioma de gestos, cores e formas — uma expressão tão visceral que tocava diretamente a alma, sem necessidade de tradução.

Nas obras dos grandes mestres do passado, técnica e emoção eram inseparáveis. Um traço de Rembrandt, o movimento captado no mármore de Bernini, as paisagens etéreas de Turner — tudo se sustentava por si só. Não precisava de justificações. A arte existia para ser, para pulsar, para viver. Era uma celebração do humano e do divino, do banal e do extraordinário, com uma clareza que não exigia permissão.

Entretanto, os designers — estes novos artesãos da beleza — começam a assumir o papel de criadores. Sem a angústia de precisar de se explicar, transformam a utilidade em algo encantador, unindo forma e função. Não se autodenominam arte, mas talvez o sejam, ao devolverem à criação o equilíbrio entre beleza e propósito.

Vivemos numa era dominada pelo vazio. Minimalismo e extravagância — tão distintos — coexistem, refletindo uma sociedade sem rosto, sem essência. E talvez seja o medo de encarar o reflexo cru e sem adornos de nós mesmos que leva a arte a hesitar, numa busca constante por justificações para existir, tentando preencher o que antes já era completo.

A arte de hoje procura sentido nas palavras, enquanto a arte do passado se encontrava nos silêncios. O problema não é a mudança — a mudança é necessária, vital. Mas, ao mudar, esquecemos como ouvir a voz silenciosa da própria obra? A necessidade de justificação apagou o essencial: sentir antes de pensar, olhar antes de interpretar, viver antes de teorizar?

Talvez esteja na hora de devolver à arte aquilo que um dia teve: a liberdade de ser reconhecida pelo que é — sem explicações, sem artifícios. Porque, no fim, se funciona, por que estragar?

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